
" Numa noite especialmente boa
Não há nada mais que a gente possa fazer"
Hoje eu acordei bem cedo. Lembrei-me do dia em que você dormiu
aqui. Ver você pela manhã ainda dormindo foi uma sensação única... O telefone
está tocando. E a minha barriga gelou. Será que ele resolveu me ligar? Não era
ele. Era o pessoal do trabalho, afinal eu já estava atrasada.
“Alô” eu disse com
uma voz ainda sonolenta, “Giovana onde você está? Estamos esperando você!” gritou
o Matheus do outro lado “já estou a caminho” eu disse meio atrapalhada. Dei um
pulo da cama, corri para escovar os dentes e arrumar o cabelo. Coloquei um
vestido claro com estampa floral, que estava combinando com o meu romantismo do
dia. Passei um blush e um gloss rosa clarinho. Abusei do rímel. Coloquei o
mesmo perfume que usei na primeira vez que saímos juntos. Eu estava pronta. Não
tive mais tempo de pensar em você. Eu não podia pensar.
O Matheus sempre foi
um amor de pessoa e um excelente amigo e profissional, porém não admitia
atrasos.
E lá estava eu com um
sorriso cínico no rosto me desculpando pela falta: “Vamos Gi, temos pouco tempo”
berrava o Matheus, enquanto o resto da equipe corria de um lado para outro
pegando os materiais para iniciar a gravação. Retoquei a maquiagem. O tema do vídeo
de hoje era sobre a sua banda preferida. Não sei se ficava feliz por me sentir
um pouco mais próxima de você ou se saia correndo e chorando. Todas aquelas
musicas eu havia escutado com você e dezenas dela você já tinha cantado para
mim.
“Câmera ligada, em 3,
2, 1... vai”, engoli o choro coloquei um sorriso na cara e comecei a falar
sobre a banda, as músicas e os boatos em torno deles. A cada música que tocava
eu sentia meu coração diminuindo e minha voz sumindo. Eu estava suando frio.
Era visível. Assim que terminou a gravação devolvi as fichas, fiquei sabendo o próximo
tema. Cumprimentei a equipe e sai. Peguei uma xícara de café e sentei-me só. A
única coisa que eu queria ouvir era o silêncio. Aquele sentimento estava me
matando.
Nunca tive problema
em falar na frente das câmeras. Muito menos nos bastidores. Mas naquele dia em
especial eu estava introspectiva. Eu tinha a sensação de que ele também estava
pensando em mim. E perdida em meio os meus pensamentos escutei uma voz ao
fundo, era a Júlia, me perguntando se estava tudo bem, ao que respondi: “Sim,
está tudo bem! Tudo ótimo”, a quem eu queria enganar? “Amiga, me conta, ainda é
o Murilo? Gi, você tem que superar, não pode sofrer assim. Você estava indo tão
bem”, não tive o que falar. Abracei a Jú e algumas lágrimas escorreram pelo meu
rosto borrando parte do meu rímel. (Continua...)