
(foto retirada do we heart it)
Foi difícil passar na sua rua e
não parar na sua casa. Eu tive que reaprender a dirigir. Você de certa forma me
deixou mal acostumada. Talvez por conveniência ou por comodidade. O primeiro
dia é sempre o pior. Quando você se da conta que dali por diante não será mais
como antes. A rotina vai mudar. Pegar o carro e sair sem rumo ainda hoje me lembra
de você. Sentir o vento no rosto e olhar a paisagem. Parar em algum lugar e
observar: as pessoas, as casas, os diálogos, a natureza. Aprendi a fazer isso
talvez não com você, mas por nós. Fugir na maior parte das vezes me deu força
para continuar. Eu só ligava o carro e ia; sabe-se lá para onde. Pena que as
nossas fugas não foram bem a dois. Pensando bem, quase nunca ficávamos sós.
Sempre tinha um terceiro, quarto, quinto... Décimo. Mas dificilmente nós (no
plural de dois). Mesmo assim sinto falta daquele seu descontrole de destino. Viver
só aquele momento. Aquele lugar e aquela história. Um momento de cada vez. Como
se fugisse da sua, verdadeira, história. Dos seus problemas reais. Talvez você
pensasse que seria possível. No final daquele caminho, sem rota certa, sempre
sobravam boas e divertidas histórias. E mesmo sem um plano, mapa ou GPS nós
nunca nos perdemos. Nossos destinos sempre findavam em algumas gargalhadas
gostosas. Mas na maioria das vezes em sorrisos singelos, abraços apertados, muitos
beijos e acima de tudo em cumplicidade. E mesmo com um silêncio ensurdecedor
meu na volta e a sua preocupação nítida com a ocasião, o regresso era ainda
melhor. Era quando eu sabia que mesmo com toda a realidade você estava ali
comigo. Silenciar nem sempre é bom. Falar de mais não trás aprendizado. Mas
aquela sensação de vento no rosto e pouca verbalização são únicas. Daí você
aprende que palavras se vão com o vento. Mas os carinhos, mesmo que os menores,
ah... Esses ficam!